quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ANÁLISE DA GREVE 2

A greve não ocorre aleatoriamente. Ela é fruto de inúmeros fatores, dentre os quais o poder de fogo da categoria para fazer valer suas propostas. Daí que saber o melhor momento para se inciar um movimento grevista é uma das principais atribuições do sindicalista.



No ano passado, inúmeras instituições federais de ensino pararam em greve liderada pelo Sinasefe. Apesar de sua heroica iniciativa, após 108 dias de paralisação, os companheiros professores dessas instituições decidiram voltar ao trabalho, arrancando (pois não foi dado) 4% de reajuste do governo, os quais, por sinal, fizemos jus.



À época, o (a) Andes decidiu não encaminhar o indicativo de greve em suas bases, por entender que aquele não era o momento ideal para fazer maior pressão sobre o governo (Isto nos faz "fura greves" em relação aos companheiros do Sinasefe?). Os resultados obtidos pelos companheiros no ano passado parecem indicar que a leitura sobre a melhor época de deflagração do movimento dos professores federais foi feita pelo Andes. Assim realizamos nosso movimento neste ano e avançamos muito além do que a paralisação de 2011 (Ou alguém com honestidade analítica duvida disto?), pois arracamos do governo um reajuste de 25% a 40%, a partir de 2013, com o maior percentual de ganhos já em março do ano que vem.


Ocorre que não há greve eterna. Não há movimento que siga a toque de caixa por um período muito superior e isto é normal. Os técnicos administrativos tiveram uma proposta irrisória do governo (e olhe que nem tiveram os 4% do ano passado), verificaram que não havia mais fôlego para pressionar o governo e trataram de conseguir mais alguma coisa junto ao governo e assinaram o seu acordo. Estão errados? Claro que não. Fizeram a opção segundo a conjuntura que visualizaram à frente, caso persistissem na demanda.


O Sinasefe, como é um sindicato de técnicos-administrativos e professores, foi até bem solidário com os docentes federais. Condicionou a assinatura do acordo dos técnicos e dos professores a um avanço na proposta dos professores. Ou seja, usou o seu poder de fogo para aprimorar o que havia sido conseguido por aqueles que conseguiram muito mais do que a categoria dos técnicos. Arrancando ainda mais esse avanço, atém para nós que temos uma representação totalmente diferenciada dos técnicos-administrativos, demonstra ter capacidade de arrancar algo mais do governo em benefício das duas categorias. Se encerrar a sua greve, os companheiros do Sinasefe terão cumprido um bonito papel junto ao nosso movimento. Se saírem são fura-greves? É claro que não, pois no ano anterior, quando estavam em greve, nós sequer demos bola.


E o Andes? Aqui é que está o nosso campo de luta e discussão. O governo fechou questão em 01/08. O nosso sindicato não tentou arrancar nada a mais. Não digo a reestruturação da carreira, pois isto seria algo muito a mais do que arracáramos. Ao invés disso passou a uma discussão messiânica sobre o que é o melhor para a nossa categoria e sem esse melhor a greve não teria tido resultado. Passou-se, a seguir um discurso esquisofrênico para si próprio em assembleias e reuniões para reafirmar uma verdade única e ponto. Isto prejudicou uma discussão real da conjuntura e impediu o próprio sindicato de buscar uma saída para o impasse.


Quando os técnicos-administrativos aceitam o acordo de 15,8% do governo há um choque no Andes e as assembleias são chamadas a discutir apressadamente uma flexibilização da proposta que enviara ao governo. Isto há quase um mês da apresentação da proposta pelo governo. Ou seja, o tempo de contraproposta já havia passado.


A seguir, a presidente do Andes solta algo hilário: não interessa o reajuste e sim a reestruturação da carreira. É o cúmulo do absurdo. Um sindicato, após 90 dias de greve, definir que o reajuste arrancado deve ser desprezado. Ou seja, o Andes dá um últimato para o governo: ou nos dá a reestruturação da carreira ou nada. É uma sorte que o governo não tenha levado isto a sério. Melhor ainda. Talvez tenha sido até bom haver um sindicato minoritário para fazer a bravata de assinar um acordo por todos. Assim o governo não tem como nos tomar aquilo que consguimos arrancar.


A greve está nos seus momentos finais. Prova disto é o desnorteamento a que chegaram as nossas direções sindicais em Brasília.


Cada um fez a sua luta e por isto parabéns. Ou como diz o meu afilhado de 4 anos: cada um carregou o seu "baldinho". Chegou, portanto, a hora de voltarmos.


Saudações aos que têm coragem.

 
 
Prof. Fernando Lemos

Nenhum comentário:

Postar um comentário