A
greve não ocorre aleatoriamente. Ela é fruto de inúmeros fatores, dentre os
quais o poder de fogo da categoria para fazer valer suas propostas. Daí que
saber o melhor momento para se inciar um movimento grevista é uma das principais
atribuições do sindicalista.
No
ano passado, inúmeras instituições federais de ensino pararam em greve liderada
pelo Sinasefe. Apesar de sua heroica iniciativa, após 108 dias de paralisação,
os companheiros professores dessas instituições decidiram voltar ao trabalho,
arrancando (pois não foi dado) 4% de reajuste do governo, os quais, por sinal,
fizemos jus.
À
época, o (a) Andes decidiu não encaminhar o indicativo de greve em suas bases,
por entender que aquele não era o momento ideal para fazer maior pressão sobre o
governo (Isto nos faz "fura greves" em relação aos companheiros do Sinasefe?).
Os resultados obtidos pelos companheiros no ano passado parecem indicar que a
leitura sobre a melhor época de deflagração do movimento dos professores
federais foi feita pelo Andes. Assim realizamos nosso movimento
neste ano e avançamos muito além do que a paralisação de 2011 (Ou alguém com
honestidade analítica duvida disto?), pois arracamos do governo um reajuste de
25% a 40%, a partir de 2013, com o maior percentual de ganhos já em março do ano
que vem.
Ocorre
que não há greve eterna. Não há movimento que siga a toque de caixa por um
período muito superior e isto é normal. Os técnicos administrativos tiveram uma
proposta irrisória do governo (e olhe que nem tiveram os 4% do ano passado),
verificaram que não havia mais fôlego para pressionar o governo e trataram de
conseguir mais alguma coisa junto ao governo e assinaram o seu acordo. Estão
errados? Claro que não. Fizeram a opção segundo a conjuntura que visualizaram à
frente, caso persistissem na demanda.
O
Sinasefe, como é um sindicato de técnicos-administrativos e professores, foi até
bem solidário com os docentes federais. Condicionou a assinatura do acordo dos
técnicos e dos professores a um avanço na proposta dos professores. Ou seja,
usou o seu poder de fogo para aprimorar o que havia sido conseguido por aqueles
que conseguiram muito mais do que a categoria dos técnicos. Arrancando ainda
mais esse avanço, atém para nós que temos uma representação totalmente
diferenciada dos técnicos-administrativos, demonstra ter capacidade de arrancar
algo mais do governo em benefício das duas categorias. Se encerrar a sua greve,
os companheiros do Sinasefe terão cumprido um bonito papel junto ao nosso
movimento. Se saírem são fura-greves? É claro que não, pois no ano anterior,
quando estavam em greve, nós sequer demos bola.
E
o Andes? Aqui é que está o nosso campo de luta e discussão. O governo fechou
questão em 01/08. O nosso sindicato não tentou arrancar nada a mais. Não digo a
reestruturação da carreira, pois isto seria algo muito a mais do que
arracáramos. Ao invés disso passou a uma discussão messiânica sobre o que é o
melhor para a nossa categoria e sem esse melhor a greve não teria tido
resultado. Passou-se, a seguir um discurso esquisofrênico para si próprio em
assembleias e reuniões para reafirmar uma verdade única e ponto. Isto prejudicou
uma discussão real da conjuntura e impediu o próprio sindicato de buscar uma
saída para o impasse.
Quando
os técnicos-administrativos aceitam o acordo de 15,8% do governo há um choque no
Andes e as assembleias são chamadas a discutir apressadamente uma flexibilização
da proposta que enviara ao governo. Isto há quase um mês da apresentação da
proposta pelo governo. Ou seja, o tempo de contraproposta já havia passado.
A
seguir, a presidente do Andes solta algo hilário: não interessa o reajuste e sim
a reestruturação da carreira. É o cúmulo do absurdo. Um sindicato, após 90 dias
de greve, definir que o reajuste arrancado deve ser desprezado. Ou seja, o Andes
dá um últimato para o governo: ou nos dá a reestruturação da carreira ou nada. É
uma sorte que o governo não tenha levado isto a sério. Melhor ainda. Talvez
tenha sido até bom haver um sindicato minoritário para fazer a bravata de
assinar um acordo por todos. Assim o governo não tem como nos tomar aquilo que
consguimos arrancar.
A
greve está nos seus momentos finais. Prova disto é o desnorteamento a que
chegaram as nossas direções sindicais em Brasília.
Cada
um fez a sua luta e por isto parabéns.
Ou como diz o meu afilhado de 4 anos: cada um carregou o seu "baldinho". Chegou, portanto, a hora de voltarmos.
Saudações
aos que têm coragem.
Prof.
Fernando Lemos